Rio de Janeiro, 25/10/2022
Por Redação GBNEWS

O Museu de Arte do Rio vai hastear na quinta-feira (27) sua nova bandeira. Inspirada pelo conceito de “Pretuguês” da filósofa Lélia Gonzalez, a obra foi criada especialmente para o MAR pela artista Rosana Paulino. Na bandeira, Rosana traz a imagem de perfil de uma mulher negra cuspindo espadas de São Jorge, propondo assim reflexões sobre feminismo, lugar de fala da mulher negra e ancestralidade afro-brasileira.
“Pretuguês” se refere ao modo popular do brasileiro falar que, para a norma culta da língua, é entendido como erro. Para Lélia Gonzalez, o jeito de falar brasileiro na verdade é o resquício do encontro das línguas africanas dos povos que vieram para o Brasil na diáspora da escravidão com o português clássico de Portugal. Segundo Rosana, trazer a frase de uma pensadora negra como Lélia é uma oportunidade de discutir questões relativas ao racismo como o feminismo negro e a demonização dos elementos de poder ligados à cultura negra.
“A ideia da bandeira é de trazer elementos inerentes à cultura negra e, assim, discutir questões relativas ao racismo como o uso - e demonização, por algumas pessoas - dos elementos de poder ligados à cultura negra, como é o caso das plantas de Axé, representadas pela Espada de Iansã, Orixá feminino de grande força e presença na cultura afro-brasileira. Ao trazer a frase de uma intelectual mulher, levantamos também a questão da presença e força feminina negra no país nesse momento. Não seremos mais caladas. As palavras são a nossa força, daí o modo como aparece simbolicamente como "arma", como espada e lâmina no formato da planta ritual que é a espada de Iansã”.
Além da bandeira inédita, Rosana Paulino possui obras na exposição principal do MAR, Um Defeito de Cor. A artista também foi a primeira mulher negra a ter uma mostra individual exposta no museu, com “Rosana Paulino: A Costura da Memória”, em 2019. Para o Curador-Chefe do MAR, Marcelo Campos, ao trazer o conceito de “pretuguês” de Lélia Gonzalez em sua obra, a artista abre dois caminhos de reflexão para o público à respeito da ancestralidade afro-brasileira e do lugar de fala da mulher negra na nossa sociedade.
“Quando a gente convida Rosana Paulino para fazer a nossa bandeira, estamos abrindo duas vertentes de reflexão: o pensamento em torno da posição social de pessoas negras e racializadas na nossa sociedade e o lugar de fala onde a mulher negra vai emitir sua opinião e construir seu pensamento e sua filosofia. Nesse sentido, a nova bandeira do MAR simboliza um português não será o do colonizador, mas sim o pretuguês. Essa bandeira, esse pretuguês é uma espécie de ato político, porque é o lugar onde a mulher negra agora fala e onde ela se posiciona”.
Segundo o diretor e chefe da Representação da OEI no Brasil, Raphael Callou, o hasteamento da bandeira é uma forma do MAR reafirmar a importância de ter a mulher negra no lugar mais alto do museu.
“Trazer a Rosana Paulino para fazer a bandeira é seguir a vocação que nós acreditamos. O MAR é um museu que encontra sua vocação quando se posiciona. Nesse sentido, nós sempre procuramos trazer exposições e ocupações que estejam vinculadas às questões sociais, afro-brasileiras e indígenas e às questões de território. Nós também sabemos da importância da Rosana no cenário da arte brasileira e internacional. Dessa forma, trazê-la para o MAR e colocá-la no topo do museu é muito representativo”.
Para comemorar o hasteamento da bandeira, o MAR vai realizar uma programação especial. Amanhã, quarta-feira (26) às 16h30, teremos a Conferência “Desde o mar, uma missiva, um mapa: o corpo-mãe da narrativa de Um Defeito de Cor”, com a professora e pesquisadora Fabiana Carneiro da Silva que irá debater temas fundamentais presentes na exposição Um Defeito de Cor e na bandeira de Rosana Paulino, como feminilidade e negritude.
Já na quinta-feira, o hasteamento da bandeira será seguido de uma conversa entre a artista Rosana Paulino e a escritora Ana Maria Gonçalves com sessão de autógrafos, e de uma roda de samba nos pilotis do museu.
Quem é Rosana Paulino?
Nascida em 1967 em São Paulo, Rosana Paulino é artista visual, educadora e curadora, sendo uma das principais artistas contemporâneas vivas do Brasil. Doutora em Artes Visuais pela USP, Rosana tem se destacado por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero, abordando temas como a posição da mulher negra na sociedade brasileira, a violência racial e as marcas deixadas pela escravidão. Possui também obras importantes em espaços expositivos como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu Afro-Brasil – São Paulo.
O Museu de Arte do Rio
Iniciativa da Prefeitura do Rio em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) desde janeiro deste ano, apoiando as programações expositivas e educativas do MAR a partir de um conjunto amplo de atividades para os próximos anos. “A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais, desde sua fundação em 1949.
Mais informações em www.museudeartedorio.org.br
Museu de Arte do Rio – MAR
Praça Mauá, 5 – Centro



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